
Um estudo sobre a participação dos gêneros na pesquisa científica, publicado pela Elsevier, uma das maiores editoras científicas do mundo, aponta que o número de mulheres pesquisadoras tem aumentado em todos os países. No Brasil, conforme a publicação, a proporção de mulheres que publicam artigos científicos – principal forma de avaliação na carreira acadêmica – e o número de pesquisadoras cresce a cada ano.
Em Minas Gerais, o cenário não é diferente. Nos diversos órgãos ligados ao Governo do Estado também é notória a presença de mulheres que coordenam e produzem pesquisas científicas de qualidade e relevância por vezes internacional. A busca pelo novo impulsiona essas mulheres que, todos os dias, confrontam hipóteses para desenvolver soluções nas mais diversas áreas, a exemplo da biotecnologia, farmacologia, entomologia e agroecologia.
Conheça, abaixo, a história de algumas destas mulheres cientistas que, devido à dedicação, descobertas ou premiações, se destacam em suas respectivas áreas.
Biotecnologia
A bióloga Myrian Morato Duarte tem toda sua carreira ligada à Fundação Ezequiel Dias (Funed). Ela começou sua trajetória profissional na fundação como estagiária em 1993 e, hoje, após os bacharelados em Zoologia e Parasitologia e o doutorado em Microbiologia pela UFMG, se diz muito feliz com a relevância do seu trabalho no Serviço de Virologia e Riquetsioses da Funed. “Pedi para ficar na Virologia, onde estou realizada e muito feliz. Trabalhar fazendo aquilo em que acreditamos é fundamental”, frisa.
“Aqui temos uma quantidade de dados epidemiológicos e de material de estudo que nos permite realizar pesquisas importantes na área de Saúde, inclusive em parcerias com outras instituições, já que pesquisa sempre inclui o compartilhamento do conhecimento. Tivemos no ano passado resultados importantes a respeito da epidemia de febre amarela, que foram publicados em revistas de renome internacional”, enfatiza a bióloga.
A afinidade com a ciência é antiga na vida de Myrian, que sempre gostou de bichos e da natureza em geral. “Eu já sabia que atuaria na área de Ciências da Natureza”, conta. Toda sua formação foi em escola pública e não faltaram estímulos para que ela buscasse seus objetivos. Seu pai era um leitor voraz, tinha muitos livros em casa e sempre estimulou Myrian e seus irmãos à leitura. A bióloga também foi uma espectadora apaixonada pela série de TV Cosmos, de Carl Sagan (1978-1979).
Paralelamente a tudo que fez na UFMG e na Funed, Myrian ainda desenvolveu outra habilidade: a de ilustradora científica. Ela conta que, quando estava na Zoologia, conheceu pessoas que faziam ilustrações de peixes e se ofereceu para fazer um desenho melhor. Até que o conhecido médico, entomólogo e escritor Ângelo Barbosa Monteiro Machado, especialista em libélulas, pediu que Myrian fizesse algumas ilustrações para ele. A parceria deu tão certo que Myrian foi até homenageada pelo professor, tendo uma libélula batizada com seu nome, a Telebasis myrianae.
Farmacologia
Em 2018, Rafaela Salgado Ferreira foi uma das 15 jovens cientistas de todo o mundo que receberam o prêmio International Rising Talents, oferecido pela Fundação L’Oréal, em parceria com Organização das Nações Unidas para Ciência, Cultura e Educação (Unesco). No ano anterior, em 2017, Rafaela já estava entre as sete vencedoras da premiação em nível nacional, que identifica e recompensa jovens cientistas talentosas no campo das Ciências da Vida, Ciências Físicas, Matemática e Química.
As premiações consideram o potencial das pesquisas e a trajetória acadêmica das candidatas. Graduada em Farmácia pela UFMG, Rafaela tem uma trajetória pouco comum, já que partiu direto para o doutorado em Química Biológica, na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e fez pós-doutorado no Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo. Uma das suas pesquisas, voltadas à produção de novos medicamentos contra a doença de Chagas recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
“A doença é Chagas é negligenciada. Apesar da importância médico-social, é uma doença para a qual não existem fármacos adequados. Por isso, é muito importante buscar alternativas. A ideia do trabalho é usar técnicas computacionais para encontrar moléculas que possam facilitar o diagnóstico e o tratamento. Temos uma estimativa de que existem cerca de seis milhões de casos em todo o mundo, a maioria em áreas pobres da América Latina”, adverte a cientista.
Além da doença de Chagas, Rafaela também lidera pesquisas relacionadas a outras doenças negligenciadas, como a doença do sono africana e o vírus Zika. E, na verdade, a farmacêutica começou a trabalhar nesta área ainda no ensino médio.
Quando estudava no Colégio Técnico da UFMG (Coltec), teve a oportunidade de participar do programa de vocação científica oferecido pelo Centro de Pesquisas René Rachou, ligado à Fundação Oswaldo Cruz, em BH, onde pesquisava métodos para conter o desenvolvimento do parasita Ascaris lumbricoides, que causa milhões de casos de infecção em todo o mundo. “A partir desta experiência, descobri que era isso que eu queria fazer. Decidi ali que queria ser pesquisadora”, lembra.
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